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04

04. 01º DIA, MANHÃ, SEXTA-FEIRA, GOIÂNIA, ERIC. 01.

A manhã de sexta-feira em Goiânia era amena, e o único motivo para a grande vendagem de jornal naquela manhã foi o resultado da primeira fase do vestibular da maior universidade do Estado. Eric se levantou já tarde, dez horas, chamou por sua mãe que não respondeu. A casa estava fechada, ela devia ter ido as comprar, como programara no dia anterior, algo diferente … pensou: “o jornal”. Voltando do banheiro Eric passou pela cozinha e minutos depois estava de frente a televisão comendo algo e assistindo desenho.

Tranquilo. Não acreditava ter passado pela primeira fase do vestibular, mas sempre se pegava imaginando alguma situação em que estivesse na faculdade ou que visse sua mãe comemorando. Nada que não pudesse combater com descontrolada dose de pessimismo, o qual tinha em abundanciada.

Jorge, grande amigo, que ocupara os pensamentos de Eric todo o dia anterior, hoje não lhe causara qualquer preocupação. Passados *três dias sem nenhuma notícia do amigo viajante, o que significava claramente para Eric que nada de mal havia acontecido. “Notícias ruim vem rápido”. A aventura de Jorge ao interior a procura de parentes era um tanto ridícula a quem não se (pôs informado) sobre o acontecido. Mas Eric sentia culpa por não acompanhar o amigo, pelo menos tinha um bom motivo já que partiria para Beira do Mar representar sua mãe na ação do inventário de seu avô. No fundo ele podia escolher o que queria fazer, e ir à Beira Mar parecia mais interessante.

Não passou mais de vinte minutos e a mãe de Eric adentrou a sala com um longo sorriso de esperança e expectativa.

— Vamos ver filho?

— Não passei mãe.

— Que isto filho, não seja assim.

— Tenho que ser realista mãe.

Eric passa as folhas do jornal enquanto respira calmamente. Focaliza os olhos sobre a coluna do curso de Administração e segue com os dedos de A … Z, em uma busca estúpida de seu nome fora da ordem.

— Não disse mãe.

Edna sorri tragicamente para o filho, pega o caderno Magazine e sai caminhando lentamente — “Tudo bem”. Eric olha o televisor friamente, sua mãe prepara rapidamente o almoço, desprezando as compras que trouxera consigo para preparar um almoço que seria comemorativo. O telejornal das doze horas começa, e nada novo ocorria na cidade. O programa seguia seu ritmo de praxe, um crime, pedidos de ajuda para pessoas desamparadas e um enfoque mais ousado sobre uma previsão de tempo. Uma frente fria que atingiria o norte do Estado mas que nada causou.

O almoço estava pronto, e mesmo tendo acordado tarde, Eric já tinha bom apetite e seguira para a cozinha.

O telefone toca.' Eric chama pela mãe. Ela entenderia assim que ele não atenderia. Eric não recebe muitas ligações, e naquela hora era quase certo que a ligação fosse pra sua mãe.

Edna não respondeu, estaria no banho. Eric atende.

— Oi.

— Gostaria de falar com Eric.

— Quem é?

— Sou Juraci :

— Juraci, bem, você esta falando com ele.

— Eric?

— Sim, fala.

— Sou Juraci. Eu sei que você é amigo de Jorge e por isto quero lhe pedir uma ajuda.

— O que foi com Jorge?

— Nada, não é nada com ele. É que sou irmão dele e…

Eric o interrompe. — O único Jorge que conheço não tem nenhum irmão.

— Compreendo, mas Jorge já deve ter falado para você do irmão dele que saiu de casa, não?

— Hum, sim. Vocês se encontraram. Confesso que nunca acreditei nisto, mas que bom. Onde está Jorge?

— Não Eric, eu não o encontrei. É sobre isto que queria falar com você.

— Como não o encontrou? Então como sabe meu número… Perai isto é um trote.

— Não Eric, sou mesmo o irmão de Jorge, estive distante… e agora quero voltar, quero sua ajuda pra que possamos nos reconciliar.

— Não acredito que você seja ele.

— Pois acredite, em breve quero me encontrar com Jorge e preciso de sua ajuda.

Eric não se convencera que estava falando com o irmão de seu amigo. Não Juraci, aquele que desaparecera ainda aos nove anos, há dez anos. Nunca ninguém tivera qualquer contato com ele. Como Juraci, o irmão de Jorge sumido estaria agora o procurando? Eric sabia que ao sumiço de Juraci era coisa antiga, antes dele conhecer Jorge. Eric precisava tirar a prova daquilo.

— Se é mesmo quem diz que é. Então me diga porque saiu de casa.

— Bem, se é preciso, eu digo. Acontece que eu apanhava muito do meu pai, então em uma noite depois de apanhar muito eu fugi.

Eric mau ouviu a resposta e já adiantou: — Precisa bem mais que isto pra me convencer.

— O que-quer-que eu lhe conte?

— Jorge já me contou esta história algumas vezes e sei bastante sobre isto.

— Então pergunte o que quiser.

— Bem … Na noite que você fugiu, o que vocês estavam fazendo.

— Brincando.

— De que?

— Brincadeiras.

— Não tenho tempo Amigo, é melhor que seja breve. — Diz Eric, já impaciente.

— Nos brincávamos de atirar contra copos e foi por quebrar alguns que eu apanhei.

Eric suspira profundamente, aquele era Juraci, agora a questão era como ele havia lhe encontrado.

— Mas como você me encontrou?

— Eric eu te liguei para pedir uma ajuda e até agora o que ouço são perguntas, poderia me dizer se está disposto ou não a me ajudar? Então eu lhe digo se estou o não perdendo tempo.

— Vai, pode mandar.

— É que estive fora todo este tempo, peço que não me faça perguntas, não agora, e quero me reaproximar de Jorge. Só não acho conveniente chegar simplesmente de surpresa. Gostaria que me ajudasse.

— Tudo bem. Quer que eu fale com sua família.

— Não! Isto é o que eu menos quero. Vou me reaproximar de Jorge, mas quero evitar o contato com seus pais.

— Mas eles são seus pais.

— Eric! Não tente compreender, só peço que me ajude, ok?

— Ok, assim que Jorge chegar eu falo com ele.

— Chegar? Ele está indo ai?

— Não, ele viajou.

— Ah sim, mas pra onde?

— Não sei bem, é pra uma de suas aventuras por ai, mas acho que se chama Montes do Sol.

— Que?!

— É, até parece que é um lugar pra onde um tio seu tinha ido, não é?

— É sim, mas não sabia que Montes do Sol existia, meu tio voltou?

Juraci estava nervoso “Montes do Sol não existia!” Era a única coisa que passava em sua cabeça naquele momento. — Meu tio Paulo, ele voltou?

— Sim Paulo, é isto. Não ele não voltou, por isto Jorge foi até lá. Na verdade, deu na cabeça de Jorge procurar o tio, e confesso que quando falou que você era Juraci pensei que Jorge estivesse certo.

— Certo de quê?

— Ele achou que você poderia ter ido atrás de seu tio… Isso quando você fugiu de casa. Há 10 anos…

— Você está falando que Jorge foi me procurar com o tio Paulo depois de dez anos?

— Jorge lhe procurou a vida toda, e agora que estava a um passo de perder a esperanças, inventou esta procura. Ele foi lhe procurar neste lugar. Eu sinceramente não acho que este lugar exista.

— Você está certo, Montes do Sol não existe mesmo.

— Certo eu? Até a pouco poderia jurar que você estaria morto.

— É complicado, você não entenderia.

— Entenderia sim, mas não conte se não quiser. O que me preocupa é Jorge, você tem certeza que Montes do Sol não existe.

— Naturalmente. Monte do Sol não existe, o que há é um pequeno vale esquecido. Eu mesmo fiz uma série de investigações sobre este lugar, meu tio falava muito sobre este lugar o que me causou interesse. Mas a pousada, vila, ou casas, o que ele contava que existia lá… nada existe.

— Jorge me disse que a pousada que diziam construir lá não ficou pronta, o dono morreu, algo assim. Ele dizia que o lugar foi abandonado, mas acreditava que seu tio ainda estivesse lá.

— Ele está sozinho? Ele foi sozinho! — exclamou Juraci.

— Ele e Deus.

— Então não ousaria entrar em um vale sem que tivesse certeza.

— Certeza? Jorge esperou muito, foi difícil segurá-lo até agora.

— E ele foi sozinho.

— Infelizmente eu tive que viajar, mas não vamos nos preocupar ele dará sinal logo.

— Ele deve desistir se ver que é difícil chegar no vale.

Algo incomodo toca o peito de Eric, o sufoca. Ele não podia dizer o que é. Mas sabia o que dizer: — Não Juraci, ele não vai desistir — pausa — Droga! Eu deveria estar lá com ele, mas vou ter que viajar.

Eric repetia, tentando si convencer que ir com amigo era mais importante que sua ida para Beira Mar.

— Vá, não se preocupe. Eu vou encontra Jorge. Ele deve ter ido pra Rio do Sol.

— Exatamente! — exclamou Eric com notória alegria — ele me contou sobre este distrito, é o que fica mais próximo. Você vai lá? Onde você está?

— Eric eu lhe peço sigilo por favor, fique tranquilo, eu vou encontrá-lo e logo dou notícias.

— De onde você está falando? — insistiu Eric em saber onde estava Juraci, imaginando que Juraci estivesse perto. — Vai procura-lo as cegas?

— Não acredito que seja difícil, logo estarei lá. Muito obrigado Eric, espero ter uma melhor oportunidade de nos conhecermos. Logo que eu o encontrar eu mando notícias. Tchau.

— Mas …

Juraci desliga do telefone. Eric fica espantado, ainda não acreditava em tudo que aconteceu. Seria Juraci um farsante tentando descobrir para onde Jorge fora? Isto é paranoia, Jorge falava para quem quisesse ouvir para onde iria, quando, como. Não seria isto, era razoável que Juraci estava mesmo de volta? Os olhos de Eric segui rapidamente pelo fone fios e aparelho, no canto da parede o Bina chamou a atenção. O número, não o atraiu, mas o prefixo DDD. Era uma coincidência um tanto estranho, 029. Caminhando até sua mãe, logo esclareceu, era o DDD de Beira Mar.

— Mãe vou pra Beira Mar.

— É o jeito — suspirou Edna, — não podemos deixar seu tio aprontar desta vez. Você saber que não é pelo dinheiro de seu avô, mas ltalo não pode aprontar sempre.

— Vou hoje.

— Hoje, não. Você só tem que estar lá na terça-feira, o que vai fazer lá?

— Acho que depois que discutir sobre o inventario do vô, talvez não acha animo pra aproveitar nada. Logo é melhor que eu vá hoje.

— Vá amanhã, então.

— Tem um ônibus a tarde e eu devo chegar lá amanhã no fim da tarde.

— Também tem um ônibus amanhã pela manhã, e você chega lá no domingo, e aproveita um pouco.

Eric pensou um pouco, seria melhor organizar a mochila.

— Tudo bem, vou amanhã de manhã.

— Que deu em você, parecia que nem queria ir? -

— Eu deixei de viajar com Jorge para ir lá.

— Não foi isto que eu pensei, mas pode ir. Sei que não vai cometer nenhuma loucura.

— Liga pra rodoviária e reserva a passagem para amanhã, de manhã, que eu vou arrumar minhas coisas.

04.txt · Última modificação: 17/02/2024 01:38 por admin

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