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parte_ii_capitulo_08

VIII

“Há algo em mim?

“Um embaraço, consequência de questionamentos, tomou a pequena. Insistentemente revistava seu Eu, com os olhos da alma, procurando em si algum problema:

“Maria franziu o cenho levemente. As pontas de seus dedos estavam tremulas. Respirava profundamente tentando elevar sua calma. Embaraçada, sentindo a falta de algo que não compreendia, acabou por se entristecer. Assim seguiu cabisbaixa o caminho até a casa de seus tios.”

Como era confuso a um alheio compreender a relação Alex-Maria, além de tudo que já foi narrado é preciso ressaltar a preocupação que tinha o rapaz em agradá-la. Flores se tornava constantes, ligações em que demonstrava grande preocupação, e constantes perguntas sobre sua vida.

Não tardou que Maria visse aquilo de forma pouco amistosa. “O que queria?” — pensava a garota que a cada dia ficava mais decepcionada. Não havia motivos para tamanha bajulação, chegavam a um quadro de subserviência, que sinceramente a preocupava.

“Por que não dizer que está apaixonada por mim? É tímido, sei, só deveria tentar ser sincero, pelo menos uma vez… Valorizo muito a sinceridade, se ele não me disser o que tem em mente, em breve desisto. Não pode existir uma amizade se não houver sinceridade”.

³ O que Maria pensava era verdade (sua verdade), o que Alex pensava era verdade (sua verdade), o que Leonardo pensava era verdade (sua verdade).

Alex compreendia os pensamentos de Maria melhor que os de si mesmo. Em seu julgamento nunca faltou sinceridade, isto porque tudo era muito obvio. “Precisaria mesmo dizer? Ou escrever em carta, grande cartaz, ou em sua camiseta.”

SOU APAIXONADO POR VOCÊ!

“Dizer-lhe o óbvio?…”

Entre Maria e o leitor ansioso que estendera a leitura até aqui, há severa semelhança: ambos acreditam que o romance já se estendeu demais. E receiam continuar a leitura, no risco de ler um final patético. Imaginando que em meio a outro almoço, ou em meio a outro cinema, ou em meio a outro domingo à beira da piscina ambos vierem a se entender, e a namorar… não me subestimem este humilde escritor…

* * *

“Os dias passaram sem novidades e a cada, Maria entendia estar mais distante de Alex, e ele mais próximo de dela. Um idealismo enfermo.”

Nesses dias, Alex só se punha a escrever trancado em seu quarto durante horas, imperturbável. Nada lhe mudaria o ânimo… Quase nada. Um telefone mudaria tudo.

É claro que o telefone tocou! Era uma sexta-feira, Léo andava a paquerar uma jovem, acredito que se chamava, ou melhor, que se chama Sandra. Sandrinha para os íntimos como dizia ele. E continuando, o telefone tocou, Alex atendeu, adivinha quem era?

— Boa noite, Alex, Léo?

— Boa noite! Você quer falar com Alex ou com o Léo?

— Oi!

— Caroline?

— Lembrou de mim.

— Claro, eu duvidava que você me… mentira eu esperava que você me ligasse. Por que demorou tanto?

— Ah! Alex. Estou fazendo um monte de coisas, trabalhando, estudando, e aju… — foi interrompida.

— É brincadeira, boba. Não precisa explicar. Gostei muito que ligasse. Bem, conte as novidades, e o Sílvio.

— Poucas novidades, e o Sílvio como sempre um amigão.

— Eu passei a semana em casa, não acontece nada aqui em Anápolis.

— Não acontece nada, ou você não faz nada? — insinuou Caroline.

— Um pouco das duas. Confesso.

— Logo que você for premiado pelo seu livro, tudo muda.

— Oh! Pensei que você torcia pelo Sílvio.

— Eu gosto muito dele, mas aquela história de um jovem que chega numa cidade as vésperas de um desastre, que se apaixona por uma garota local… Aném, é muito manjada. E chata. Prefiro a sua.

— Pois eu curto, e quando vê-lo, diga que estou torcendo por ele.

— Amanhã eu o encontrarei com ele e conto. Mas ainda acredito que você irá ganhar.

— Você sempre tão carinhosa. — Alex ficou em silêncio três segundos e continuou — Não escrevi o livro. Escrevi um livro qualquer. Sentei-me e escrevi. Sem emoção. Nem mesmo eu me animei. Mas prometo que ainda te mostro um livro emocionante: O Livro. Então você vai gostar!

— E você já começou a escrever esse, o livro?

— Sim…

— Ótimo, estou ansiosa para ler — uma pausa e Caroline continuou ­— Sem querer mudar de assunto, mas já mudando. Amanhã iremos ao cinema; Sílvio e eu.

— Legal.

— Por que você não vem conosco?

— E atrapalhar vocês.

— Não vai atrapalhar nada. Como disse, Sílvio e eu somos só amigos, e vocês têm bastante afinidade sei que irão se dar bem.

— Para falar a verdade, eu não estou afim… de recusar. A que horas e onde.

— No mesmo shopping. Marquei com Sílvio as dezesseis horas. Vou ter folga e então vou mais cedo quero comprar uma sandália. As catorze horas, ok? Vou continuar ligando pro Sílvio marcar o horário certo com ele.

— Obrigado pelo convite. Preciso mesmo espairecer um pouco.

— Problemas?

— Os de sempre.

Pôde-se ouvir Caroline sorrindo, a incerteza sobre o valor da ligação feita de Goiânia para Anápolis, fez que a garota adiasse as poucas novidades para o outro dia.

* * *

— É amanhã. — disse Sílvio a Eric, seu maior amigo, verdadeiro irmão.

— Já ouvi esta história um monte de vezes.

— Comprarei flores. E direi pra ela…

— Está pensando em falar o quê?

— Não resisto, preciso! Quero beijá-la.

— Muito criativo.

parte_ii_capitulo_08.txt · Última modificação: 20/03/2024 04:51 por admin

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