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parte_i_capitulo_09

IX

— Você não disse. — questionou Léo ao ver entrar apressado e pálido o amigo.

Alex seguiu sem comentários, sentou na beira da piscina que por um descuido quase transbordava. Ali sem tirar os olhos da água, descreveu fato a fato, sorrisos, olhares, falas. A mais completa descrição que poderia fazer dos momentos que esteve com Maria: frequência cardíaca, frio nas mãos, respiração ofegante… Tudo. Ao terminar a longa narração-descritiva levantou-se esperando o veredicto.

— Parecia comum, até engraçado, contudo, ficou chato. Não posso compreender o porquê deste acanhamento. Medo de ouvir um não? Você a manipula de um lado pro outro, talvez aproveitando de sua educação, talvez aproveitando de seu amor. A única coisa que eu afirmaria hoje, é que não concordo com sua atitude. Desculpe se levo as coisas desta forma. Você não deveria esquecer que Maria é minha amiga. Você a despreza? Se não, por que faz isto, desta forma? Estou cansado… boa noite.

— Esvazie a piscina. — disse Alex continuando com sua fraqueza em argumentar.

— Não precisa, ela não está tão suja. — disse Léo enquanto caminhava para o interior da casa.

— Eu coloquei sais de banho, muito, pensei que funcionaria, foi tolice, fiz tudo errado, ele arde os olhos… Sei lá o que fiz… fiz tudo errado, tem que esvaziar, esvazie.

— Hoje não. Amanhã! — replicou Léo.

Na casa, longe do olhar de Alex, Léo sorriu; claro que não foi pelo romance caricatural, mas pela estúpida ideia de colocar sais de banho na piscina, e talvez propositalmente enchê-la até quase transbordar. Enquanto subia as escadas pensou se não estava sendo muito duro. Alex era imaturo. Sentiu ainda mal negar o pedido de esvaziar a piscina de forma tão enérgica, mesmo que realmente não acreditasse na necessidade. Vai saber se Alex em sua infantilidade não mijou na piscina? — sorriu ao imaginar, mesmo tendo certeza que não foi isso. Fato que Alex não lhe faltava como amigo, sequer falaram sobre quando ou quanto ele ajudaria no aluguel, Alex era um verdadeiro anfitrião. Foi este pensamento que o vez atravessar a cozinha sair pela porta do fundo indo na direção o rústico mecanismo de esvaziamento da piscina.

Alex tinha a mente cheia, milhares de justificativas. Nenhuma o trazia alívio. Seu corpo estava quente, precisava relaxar. Despiu-se. Jogou suas roupas sobre a mesa de praia ao canto da piscina. Correu quatro metros e saltou num mergulho profundo.

Léo ativou o mecanismo de esvaziamento e retornou ao quarto, tomou um banho demorado, quase trinta minutos. Enquanto fechava a janela, um costume quase supersticioso se considerasse o calor, notou que a piscina não esvaziara. Problemas seriam resolvidos no dia seguinte, este já foi muito cansativo.

Ao chegar na suíte pensou em banhar na banheira e para isto abriu as torneiras para enchê-la, sentia o corpo dolorido. Voltou ao quarto ensaiou ler alguma coisa e desistiu. Fechou as torneiras, desistiu, tomou um banho quente se jogou na cama e não tardou dormir, a noite foi estranhamente silenciosa.

Logo que acordou, foi a janela, não precisou abri-la para notar que a piscina continuava cheia. Seguiu novamente o caminho do dia anterior, cortou a cozinha e saiu pela porta dos fundos, o mecanismo não mostrava alteração, estava aberto, faltava apenas verificar se algo impedia o fluxo da água.

Sentia-se leve, dormira bem, caminhava sem fazer barulho pela cozinha, abriu a geladeira e retirou uma caixinha de suco, enxaguou a boca na pia, ainda não havia escovado os dentes.

Caminhou até a piscina.

Forte foi o frio que sentiu ao ver as roupas de Alex jogadas sobre a mesinha de praia. Não, claro que não! — pensamentos que acompanharam uma forte dor no estômago.

Sem perceber num instante estava à beira da piscina, era um pesadelo, seu estomago revirou ao avesso, ficou pálido, talvez mais que o de Alex preso no fundo da piscina pela sucção da comporta de esvaziamento. Léo respirou profundamente três vezes tentando se acalmar, sentia fortes náuseas, suas pernas estavam fracas, as contrações de seu corpo só aliviaram um pouco quando vomitou o suco que acabava de tomar.

Em ação instintiva, sem se quer firmar os olhos em algo, se lançou na piscina, passou a mão sob o abdômen do rapaz, aliviando a pressão e arrancando, arrastou e o lançou a beira. Sem mais forças, permaneceu na piscina sem conseguir sair. Sentia uma leve sucção nas pernas. Passaram trinta segundos para poder então tomar impulso e sair.

Ajoelhado de frente ao corpo do amigo, viu não ter mais tempo. Estava branco, pálido, grandes olheiras, os cílios e lábios estavam roxos, não respirava, estava frio como a água da piscina naquela manhã. Apoiando as mãos no chão buscou forças para poder chegar ao telefone.

— Não, não… — lamentava.

Antes que pudesse pegar o telefone, desmaiou. Terrível devaneio teve. Pesadelo infernal, Alex o segurava e aplicava uma injeção em seu braço, acalme amigo! Acalme você vai ficar bem, eu vou explicar tudo — foram às palavras ouvidas por Léo em seu delírio.

parte_i_capitulo_09.txt · Última modificação: 17/01/2024 20:33 por admin

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