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Introdução por Sílvio Lôbo Júnior

 

Diante à repressão em que a censura controla os meios de comunicação e coíbe a liberdade de expressão, os homens tende a se expressar por formas alternativas. O principal meio desta expressão é a literatura.

Desde o inicio da história humana o homem cria textos abstratos usando e abusando do simbolismo afim de passar ao grupo perseguido o ideal de liberdade ou até de denunciar a realidade.

Muitos textos foram escritos com o objetivo de denunciar a realidade em época de repressão. O mais conhecido deles com certeza é o de Apocalipse, presente na Sagrada escritura. Neste, um suposto João, preso na Ilha de Patmos escreve pra os lideres das igrejas da Ásia a fim de denunciar os abusos do governo romano. Num ambiente de perseguição e censura, o autor deste livro usa de linguagem abstrata cheia de simbolismo. Os lideres das comunidades cristãs são chamados de anjos, o imperador Dominiciano, que após seu coroamento passara a assinar “Domicinianus Dominus” (Domiciano Senhor e Deus) e descrito neste livro como a Besta que se diz ser Deus, e é seguido por uma outra Besta que lançara sobre as cidades chamas de fogo para exibir seu poder, ou seja Nero em sua exibições onde mandava incendiar vilas na baixa-Roma.

Como se vê os textos abstratos, o simbolismo e a luta artística para a Revelação, (retirada do véu; descobrir o que é coberto), não é algo novo, mas sim uma reação humana de lutar diante a situação de censura onde não exista a liberdade de expressão.

Neste mesmo enfoque inicia este trabalho. Com o objetivo de descrever a simbologia artística empregada em uma obra de beleza oculta, que denuncia fatos ocorridos a pouco tempo, cujos personagens ainda caminham entre nós, e o qual muito há de se compreender pra que a justiça seja assim cumprida.

 

Ave, Armas!
Darcy França DENÓFRIO
Mestre em Teoria da Literatura. Poetisa,
ensaísta e Professora Adjunta (aposentada) do Departamento de Letras da UFG.


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A montagem (ave+armas) expressa em Avarmas, que nomeia um conjunto de contos de Miguel Jorge, publicado pela Ática em 1978, aponta para um dos muitos recursos poéticos que ele e também outros contistas brasileiros, sobretudo a partir da década de 60, passaram a incorporar ao texto narrativo. Mas, até aqui, o conto passou por um longo processo de transformação.

O conto tradicional _ como uma história que se desenrola linearmente ante os olhos do leitor, com princípio, meio e fim; contendo um conflito quase sempre muito claro para o leitor; número reduzido de personagens sem nenhuma profundidade psicológica; um curto lapso de tempo e espaço restrito; absoluta objetividade, com a ênfase na ação das personagens e não no que se pode depreender delas _ já aparece no Brasil no século XIX, por volta de 1840. A partir das primeiras experiências precursoras em jornais, por volta de 1836, o conto vai, com o tempo, ganhando dimensões literárias. Entretanto, segundo afirma Herman Lima, "se o conto literário não começou com Machado de Assis, firmou-se com ele, recebendo-lhe das mãos trato que nenhum dos outros anteriormente lhe haviam dado (...)". No que se refere à narrativa curta, as primeiras publicações de Machado são de 1860. Sua primeira obra publicada no gênero, Contos fluminenses, é de 1870, cem anos portanto antes da fase de intensa experimentação por que passou o conto brasileiro.

Assis Brasil considera que somente com a publicação da obra de Samuel Rawett, Contos do imigrante, de 1956, vai-se desviar o curso da narrativa curta brasileira. Para ele, este contista, judeu-polonês que veio aos seis anos para o Brasil, "quebra a tradição machadiana entre nós", sendo o inventor do conto de flagrante, à semelhança de Tchekov. E Antônio Hohlfeldt, em Conto brasileiro contemporâneo, enumera, buscando também a opinião de críticos abalizados, as características dos contos de Rawett, cuja primeira é o fato de se construir centrado em personagens. Sumariando, as outras características seriam a destruição do enredo, ou a presença de uma trama armada de modo tenue, o que fatalmente vai destruir a noção clara de tempo e espaço; a frase sincopada, apropriada à dureza e situação de angústia que envolve o seu texto e a personagem; a pobreza fabulística compensada por uma riqueza de ação interior, expressa através de certas técnicas narrativas, tais como monólogos interiores e solilóquios; a revelação do "bicho homem", a sua solidão e a sua dificuldade de comunicar-se ou até a sua incomunicabilidade. Dentre estas, estão algumas das principais características do chamado conto experimental, ou seja, daquele conto em que os seus criadores experimentaram novas formas ou processos de escrever a narrativa curta.

Para Alfredo Bosi, entretanto, foi Alcântara Machado, filho de uma tradicional família paulista, "quem por primeiro se mostrou sensível à viragem da prosa ficcional, aplicando-se todo a renovar a estrutura e o andamento da história curta". E isto, é bom ressaltar, quase 30 anos antes das experiências de Rawett. Seus livros de contos Brás, Bexiga e Barra Funda, de 1927, e Laranja da china, de 1928, de fato constroem-se nas picadas abertas pela prosa experimental de Mário e Oswald de Andrade. O interessante é que tanto ele quanto Rawett trouxeram à cena o emigrante. E muitas vezes a nossa memória nos trai: ao falar "Gaetaninho", conto de Alcântara Machado, nos lembramos de "Gringuinho", de Samuel Rawett, trocando, às vezes, até mesmo o título de um pelo outro.

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