Era uma quinta-feira quando o jovem Almeida chamou seu pai à mesa para contar lhe da decisão que tomara. Almeida decidira mudar-se para casa de um tio em outro estado. Ninguém poderia compreender o porquê daquilo. O convite que fora feito por seu tio já há alguns meses, não poderia ser menos tentador. Trágica mudança, em momento tão importante, a custo de nada. O pai do jovem escutou todos os argumentos de seu filho sem que qualquer um o justificasse; ficou quieto por quarenta segundos, depois fitou o rapaz e com um leve sorriso, balançou o pescoço positivamente.
Almeida tinha uma grande quantidade de amigos, os quais fazia questão de avisar, um a um. O primeiro, naturalmente, foi Antônio, seu grande amigo. Na sexta-feira ambos caminharam sem destino pela cidade, Almeida se concentrou em formular os mais convincentes argumentos. Nada convincente, porém Antônio que conhecia o amigo como ninguém, decidira esperar. Sentia incerteza, e acreditava que seria apenas mais uma de suas invenções.
— E a Maria... — Sussurrou Antônio.
— Vou conversar com ela amanhã...
Depois disto eles não tocaram no que se dizia respeito à partida do rapaz. Antônio se encantara com bela moça da faculdade, e isto renderia um bom papo até o final da noite. Quando já se despediam, Almeida reafirmou sua decisão, com tamanha certeza que quase se enganou. Nada serio, ainda não tinha ligado para seu tio, muito ainda poderia acontecer.
Eram quinze horas quando o jovem rapaz completou a terceira volta no quarteirão em que a garota morava. A janela aberta foi a pista que demonstrava a chegada do trabalho. Almeida não hesitou, bateu palmas e aguardou a chegada com uma dúvida no rosto, quase um sorriso.
Os planos de partida foram ditos enquanto caminhavam para sala. Maria foi à cozinha e voltou com um copo de água. Ela percebera como o jovem aparentava em calorado. Já sentados, Almeida contou tudo o que faria. Falou inevitável impossibilidade do contato conseqüência do distanciamento. Maria desejou ao amigo os mais felizes votos. Apenas Almeida não sentiu o frio. Naquela tarde não tinha mais dúvidas, sairia na quarta-feira.
Antônio permaneceu junto ao amigo, todo o domingo e segunda, na terça ligou dizendo ter que pernoitar na casa de um parente. Talvez não conseguisse chegar até a partida. Era apenas desculpa, ele não queria ver o amigo partir. Durante este último contato, Antônio hesitou alguns segundos, depois então perguntou se aquilo era mesmo necessário. Almeida se restringia em dizer que seria o melhor.
A terça foi no telefone. Almeida ligou pra todos amigos que pode. Todos lhe desejaram sorte, os melhores votos. Almeida dava ênfase ao dia e hora. “Cedo, sei... É que decidi fazer isto... Sabe? É melhor.”, era o que dizia sempre que estava nervoso.
A quarta-feira foi movimentada em sua casa, todos os parentes se reunião bem cedo para despedirem. Almeida se manteve sereno, conversava com todos, os abraçavam fortemente. As quatorze horas comunicou a todos que seguiria para rodoviária. “Vou sozinho, nada de despedidas”, dizia o garoto.
Sozinho na rodoviária o jovem garoto sentiu-se mal. Ficou inquieto ao observar o horizonte, a expectativa de alguém que não vinha. Todas as malas já estavam guardadas, o último passageiro entrou, faltava Almeida, que permanecia atento ao horizonte. Ninguém. Caminhando lentamente para o ônibus, relembrou todos seus amigos. Eles o amavam, eles o desejavam felicidade e sorte. Forte foi a melancolia que Almeida sentiu quando o ônibus iniciou se percurso. Todos o amava; Almeida era feliz por isto, mas ele sofria, sofria muito por ninguém ter lhe impedido.
Em um dia escuro e chuvoso Almeida partiu.
Silvio de Souza Lôbo Júnior (2005)
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