VI
LEONARDO
Sou Léo, venho colocá-los à par dos últimos acontecimentos.
Quantas coisas aconteceram enquanto Alex se trancava no seu quarto dia e noite com a desculpa de estar escrevendo…
“Um novo residente médico que chegou ao hospital demonstrava interesse por Maria, saíram juntos duas noites consecutivas e já falavam no hospital que ambos estavam namorando. Descobri o que podia, Maria negou, mas nada impediria que um relacionamento começasse brevemente. O que eu podia fazer? Nada! Desejava a sua felicidade, desejava também a de meu mais novo amigo velho. (Agora posso chamá-lo amigo, sem qualquer receio). Confesso que estava confuso com tudo. Acredito nele, ele dizia a verdade, talvez apenas não entenda tudo. Ainda não sei, mas seja o que for, ele não faz nada por má-fé.
Quanto a Maria, entramos de férias da faculdade no dia primeiro de julho, e no trabalho no dia cinco do mesmo mês. Maria não foi mais a Anápolis durante todo o mês, eu fiquei lá até o dia dez. Então retornei para casa. Apesar de tudo ainda não via aquela casa como a minha, em dois meses completaria um ano que estava lá, e ainda hoje estranho o seu cheiro. Não que seja ruim, até que é bom, lembro a emoção que senti nos primeiros dias, contudo não é a mesma coisa que sinto na minha casa, junto a meus pais. Fui insistente para que Alex fosse comigo, disse que não iria sem ele. Ele pediu desculpas disse que não ia, e me convenceu a ir de tal forma que ainda hoje não me culpo de tê-lo deixado sozinho durante aquelas semanas.
Não sei muito sobre o que ele fez durante aqueles vinte dias, sei que ligou para Maria duas vezes, duas segundas-feiras não consecutivas. Liguei algumas vezes e perguntei o que ele havia comido. Ele sempre dizia estar comendo algo em um restaurante, e que eu parasse de ligar, afirmando estar bem. Ao final, ele sempre agradecia minha preocupação e desligava antes que pudesse dizer: “De nada!”
Sei que ele enviou flores para Maria, flores sem emblemáticas. Ligou para Rosa e realizou o pedido. “Disse as flores que'eu queria e transferi o dinheiro para conta da floricultura“. Ela te ligou? — perguntei. “Sim” — respondeu ele, alegando pressa, desligou.
Nunca tive coragem de perguntar, que ocupação o tirava tanto o tempo. Acredito que não o fiz por ver em seus olhos o quanto temia esta pergunta. Ao todo sei que enviou e-mails para alguns amigos da Internet, os conseguia com grande facilidade. Concluiu seu livro e o entregou em uma tarde. “Ele veio em Goiânia na primeira semana em que o deixei; não sabia. Verdade é, que eu sabia muito pouco sobre o que acontecia.
O médico ligava para Maria com bem mais frequências, e ela a ele. Eu ligava para Sandra - Sandrinha para os íntimos - uma jovem alheia a história contada por Alex, que nestes dias eu pensava, pensava e pensava.
Algumas vezes como por fantástico os mistérios de Alex pareciam a mim, explicáveis. Algo que não duravam mais que alguns minutos e logo eu me via confuso e perdido.
* * *
A narração abaixo descreve acontecimentos relevantes ocorridos paralelamente, durante o mês de férias.
Goiânia – Universidade Cosmos.
O casal de amigos Caroline e Sílvio se espreguiçavam num banco:
— É, foi-se o semestre… — disse Sílvio.
— Foi bom, não foi? — questionou Caroline.
— Não foi lá estas coisas, mas… até que foi…
— Por quê?
— Você sabe exatamente o porquê.
— Lá vem você de novo.
— Mas deixemos por agora, você precisa de tempo. Aqui está o livro, já que trabalha próximo à Organização da Premiação não lhe custa.
— É já que é próximo… Não me custa — disse desanimada.
Após a renovação da matrícula para o novo semestre, Sílvio se despediu e Caroline tomou o ônibus seguindo para a Sede da Organização do Evento que organizava um concurso que premiaria novos escritores.
***
Acaso ou destino, lá estavam Caroline e Alex lado a lado.
— Bom dia! — disse Alex.
— Bom dia! — respondeu Caroline.
Alex hesitou dizer qualquer palavra. Sentia vontade de se apresentar a uma escritora, assim iniciou:
— Gosta de escrever?
— Um pouco… Este livro não é meu, se é o que quer saber. É de um amigo.
— Um amigo. Ótimo. Ele não pode vir, por não morar aqui?
— Não, ele não pode vir porque é um preguiçoso.
— E você veio entregar o original porque gosta muito dele.
— Não, eu vim entregar o original porque não tinha nada para fazer no meu horário de almoço, se não almoçar, e passei por aqui. Trabalho aqui no Shopping.
— Vejo que está aqui à força.
— E eu vejo que você não acerta nada.
Alex sorriu:
— Muito simpática você.
— Obrigada.
— A história que escrevi é bem legal… — Alex é interrompido pela recepcionista, que os recebe e recolhe o material.
Já na saída Alex continua:
— Como eu dizia, escrevi um romance muito legal. Posso lhe contar.
— Não! Por favor! Não me conte.
— Desculpe-me, o que te fiz? — disse Alex enquanto interrompia a caminhada.
— Você? Nada. Eu não aquento mais este papo de: “me deixa te contar uma história”. Aceito qualquer cantada, mas isto não!
— Não estou te cantando.
— Uhm, orgulhoso. Estou indo trabalhar, se tiver algo melhor pra falar pode me acompanhar.
— Eu moro em Anápolis e voltarei pra lá.
— Então, tchau.
Alex permitiu que a jovem partisse sem pronunciar nenhuma palavra. Já a mais de quarenta metros ele correu para alcançá-la, já ofegante questiona-a:
— O que eu tenho?
— O que você tem onde?
— Por que da ojeriza, repulsa, aversão…
— Peraí! Você não é um destes malucos que adoram abusar do vocabulário, não é?
— Não!
— Então já tem um ponto comigo.
— Quero saber porque deste tratamento.
Caroline sorriu de forma simpática, relaxou o ombro.
— Desculpe-me, desculpe-me mesmo. Falo com sarcasmo, é brincadeira, não pensei que lhe ofenderia.
— Ohu, ohu, ohu… desculpe-me… Sou eu que tenho que pedir desculpas. Que tens você com meus defeitos. Tchau.
Alex se virou e caminhou começando a afastar.
— Defeitos não vejo nenhum. Você é bonito, parece saudável.
Alex a observou, não desejava falar nada. A pequena merecia uma explicação mesmo que incompreensível, e se lembrando do solitário amigo andarilho contou uma história:
— Preste atenção: existe numa sala de aula trinta alunos, entre eles, Luiz um jovem de estatura baixa nariz grande… Diremos que ele é feio. Há também, Marcos um jovem alto, ajeitado… Digamos que ele seja bonito.
Caroline permanece estática enquanto Alex a narrativa sem pausa:
— Neste mesmo universo de trina alunos existe uma garota chamada Lis. Que sempre pede ajuda a Marcos em alguma matéria que esteja com dúvidas, mas ele sempre a menospreza, não lhe dá muita confiança, mas ela sempre renova o sorriso ao se aproximar dele tentando outra vez obter a atenção. Enquanto Luiz é todo prestativo, oferece fotocópias de exercícios respondidos, ajuda Lis em tudo. Contudo, ao primeiro lapso de Luiz, mesmo em um exercício que não esteja completo ou algo que ele não possa ajudar. Bem, Lis fica com raiva dele, e acaba por fechar a cara para o colega, e este muitas vezes tem que pedir desculpas por não pode-la servir em tudo — uma pausa, e continua — Mesmo que não saiba, Lis está sendo influenciada pela aparência. É irrelevante o que Luiz faça. Ele sempre será inferior. Marcos sempre encantará Lis, e a fará voltar sempre com um sorrisinho bobo, e esperanças renovadas… Entende?
Caroline aproximou-se mais e sorriu:
— Eu não conheço este Marcos, mas você não é de se jogar fora.
Alex sorriu. Caroline continuou:
— Como eu disse, você é bonito, tem excelente aparência. Não sei como vão às coisas aí dentro, mas não acredito que estejam tão ruins. Essa Lis, não tenho ideia de quem seja, mas desejo que ela saiba sobre o que você sente.
— Obrigado, desculpe pela história e tchau novamente.
— Até.
Novamente Alex se virou, afastou mais alguns metros. Caroline também se virou e caminhou em direção ao shopping em que trabalhava. Um minuto depois a voz do garoto novamente, se ouvia:
— Pipoca? Lá tem?
— No shopping? Tem.
— Quero pipoca?
— Vamos, eu vou querer também.
O casal até que tinham afinidades, gostavam das Letras. Cada um de sua forma. Caroline de seu estudo mais sistematizado, da leitura enriquecedora, do aprendizado acadêmico e Alex gostava de usá-las, não se importando se certas ou erradas, tão somente importava se as usava.
Da pipoca a uma longa conversa. Alex contou sobre a chegada em Anápolis e como as coisas caminhavam. Uma descrição detalhada de como se apaixonou por Maria e tantos pormenores que davam créditos a necessidade de um novo encontro. Após minutos de preciosa confissão eles se despediram com um forte abraço. Alex escreveu em um pequeno guardanapo seu número de telefone e o entregou a Caroline.